Após seis dias consecutivos sofrendo pela falta de água nas residências, moradores de vários bairros de São Geraldo do Araguaia reuniram-se nesta sexta-feira (22) pela manhã no escritório da Odebrecht Ambiental – empresa que presta o serviço de fornecimento de água, coleta e tratamento de esgoto no município – para cobrar explicações sobre a interrupção no fornecimento e exigir a normalização na prestação do serviço.
Na ocasião, os consumidores ouviram do gerente local, Roniscley Passos Dantas, que o problema estaria na má qualidade da água captada no Rio Xambioazinho e que a empresa está tomando providências para resolver a situação. A explicação do gerente não convenceu o grupo de moradores que prometeram tomar medidas mais drásticas caso não seja retomado o fornecimento de água em 24 horas. Há exatos 38 dias houve audiência pública no município para tratar do assunto, entretanto, até o momento nada foi feito para resolver o problema.
Ezequiel Noleto Lopes foi um dos moradores que reclamaram sobre a falta de água nas torneiras da cidade. “Moro no bairro Cohab. Lá estamos a seis dias sem água, utilizando água do poço da vizinha para limpar a casa e cozinhar. Para beber, temos que comprar água mineral. Do jeito que está não pode continuar. A empresa [Odebrecht Ambiental] tem de resolver o problema. Caso contrário, a população pode se revoltar e tomar outras medidas sobre o assunto”, protestou.
José Cícero Rodrigues é outro morador insatisfeito que participou da reunião no escritório da empresa concessionária. Ele conta que tem uma filha de quatro meses em casa e a falta do produto está lhe trazendo sérios problemas. “Estamos sem condições de manter a higiene pessoal da criança, bem como da casa, também por falta de água. A gente vem aqui e escuta o gerente dizer que o problema é a cor da água do Rio Xambiozinho. Isso não dá pra aceitar. Queremos água em nossas casas”, protestou.
A situação da falta de água afeta também o centro da cidade. Walterly Marcos Marinho Vanderley (Terly) reclama da falta do líquido na casa dele. “A situação chegou a um ponto crítico. Nem os banheiros das residências não estão sendo limpos por falta de água. Numa casa que tem criança a situação piora”, critica.
O Vice-prefeito do município, Leandro de Sá, também participou da reunião no escritório local da Odebrecht Ambiental para cobrar explicações sobre a falta de água no município. “Liguei no centro de atendimento ao cliente da empresa e não souberam informar o real motivo da falta de água na cidade. A falta de informação irrita mais ainda o cidadão”, protestou.
Falta informação
Outra reclamação dos moradores é a falta de informação sobre as causas da interrupção da água. “A empresa não comunica a sociedade sobre a verdadeira situação. A gente ouve várias especulações. Isso acaba revoltando mais ainda quem paga pelo produto e não recebe. Se continuar assim, vamos partir pra meios mais graves”, ameaçou um dos participantes da reunião que preferiu não se identificar.
Na outra ponta, a falta de água e de explicações por parte da concessionária sobre a ausência do líquido nas torneiras tem ajudado a aumentar a venda de água mineral. O gerente de expediente de um supermercado no centro da cidade, que pediu para não ter seu nome citado, informou que nos últimos cinco dias dobrou a venda de água mineral no estabelecimento. “O gasto extra começa na minha casa. Lá, estamos utilizando água mineral até para cozinhar. Isso é um absurdo”, lamentou o comerciário.
Defesa
O gerente local da Odebrecht Ambiental, Roniscley Passos Dantas, informou à Reportagem que além da turbidez na água captada no Rio Xambiozinho, houve dois rompimentos na tubulação que afetou a distribuição de água na cidade. “Um dos rompimentos foi consertado ainda durante a noite. Mesmo assim comprometeu a distribuição de água em alguns bairros da cidade”, informou.
Ainda de acordo com o gerente, as constantes chuvas dos últimos dias tem provocado enxurrada e revolvido o leito do Rio Xambiozinho, fazendo com que a água fique turva. “Precisamos de mais tempo para tratar e fornecer à população”, pontua.
Indagado sobre um possível problema nas bombas de captação de água também estar influenciando no problema, Roniscley confirma o fato, mas garante que o equipamento foi consertado em menos de 24 horas e que o isso não afetou o fornecimento do produto à população.
Entenda o caso
Em dezembro de 2015, o promotor de justiça, Agenor Cássio de Andrade Correia, titular da Promotoria de Justiça da Comarca de São Geraldo do Araguaia, realizou audiência pública na Câmara de vereadores, com o objetivo de tratar sobre a qualidade no fornecimento de água, coleta e tratamento de esgoto no município.
As principais queixas apresentadas na audiência recaíram sobre as constantes interrupções no fornecimento de água para as residências e o frequente rompimento da tubulação de esgoto nos bairros periféricos. Também houve reclamação sobre a turbidez (cor) e odor na água fornecida à população, sobretudo nos bairros mais afastados do centro da cidade, além do alto valor da tarifa cobrada pelo tratamento e fornecimento do líquido, bem como o tratamento do esgoto.
Alguns moradores chegaram a relatar que exames laboratoriais feitos em pessoas com distúrbios nos rins relacionaram o problema com o consumo da água oferecida à população.
Após ouvir as reclamações e justificativas de parte a parte, entre outras ações, o promotor recomendou assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta com a Odebrecht Ambiental, concessionária do serviço de água no município, para solucionar os problemas levantados durante a audiência. Agenor recomendou ainda que a prefeitura desse início a procedimento para elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico. (CT Online/Nilson Amaral, freelancer)
