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sábado, 20 / abril / 2024

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Na cidade piauiense de menor renda, maioria recebe Bolsa Família, mas falta emprego

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A vegetação verde vai ficando mais seca e o asfalto dá lugar à uma empoeirada estrada de chão quando se aproxima de Assunção do Piauí, a cidade piauiense com a menor renda per capita no Estado, a 270km de Teresina.

De acordo com o Censo 2010 do IBGE, a população de 7.500 pessoas da cidade ganha em média R$ 137 por mês, sendo que, entre os 25% com menor renda, a média mensal é de R$ 27.

A pobreza que se vê em Assunção do Piauí não é escancarada. No centro da cidade, há uma pracinha central com a sede da prefeitura, uma escola, uma igreja e uma rua de comércio; quando se afasta, chega-se aos bairros mais pobres, mas mesmo neles as casas de alvenaria ou de adobe destoam das casas de palha ou pau-a-pique muitas vezes associadas à pobreza extrema.

É ao passar das fachadas para dentro das casas que o problema começa a ficar mais claro. Conversando com os moradores, a pergunta sobre emprego tem quase sempre a mesma resposta. O trabalho na roça é a única opção para a maioria. Mas a principal atividade agrícola em que a cidade se apoia está em declínio há anos.

“Nós éramos grandes produtores de feijão dos anos 1960 a 1980”, lembra Manoel Alves Barbosa, que tem 64 anos e hoje dirige o Cras (Centro de Referência de Assistência Social) da cidade. “Saíam carradas de feijão de março a dezembro”, diz.

De acordo com o Censo 2010, 46% dos moradores de Assunção recebem até R$ 70 por mês, patamar definido como alvo pelo plano Brasil Sem Miséria para erradicar a pobreza extrema no país.

Impasse Agrícola

Assunção ainda busca se apoiar no título de capital do feijão, ostentada em uma placa de boas-vindas quase apagada na entrada da cidade.

Parte da população ainda não desistiu de plantar; segundo a assistente social Ana Alaídes Soares Câmara, o município é o segundo maior plantador da leguminosa no estado.

O problema está na hora da colheita. Segundo Barbosa, as safras têm sido ruins, e mesmo quando as chuvas colaboram no semiárido, o difícil acesso e o isolamento da cidade dificultam a venda.

“O pobre acaba vendendo a qualquer preço na beira da estrada”, diz ele, que espera ver a situação melhorar neste ano, com a chegada do asfalto a Assunção, obra prevista para o fim deste semestre.

Valéria Melo Barros, assessora de gabinete da prefeitura, diz que a cidade não acompanhou as inovações na agricultura. “Com o passar do tempo, a cultura da roça foi passando de pai para filho e eles não procuravam mudar”, diz Valéria. “O município ainda tenta viver da agricultura, mas não está dando.”

Ela afirma que a prefeitura se associou ao Sebrae para capacitar moradores para produzir mel e plantar hortaliças. “Estamos buscando alternativas para aumentar a renda do pessoal.”

Bolsa Família

Valéria diz que a cidade também está vendo um crescimento do comércio impulsionado pela renda dos beneficiários do Bolsa Família, que usam o cartão com os recursos do programa para comprar alimentos nos mercadinhos do centro.

Dos 7.500 moradores de Assunção, boa parte recebe o Bolsa Família. De acordo com o Cras, 1.500 famílias contam com o benefício, sendo que cada uma pode ter de quatro a 14 pessoas. Levando em conta a média de 3,97 pessoas por domicílio calculada pelo Censo 2010, são quase seis mil pessoas alcançadas.

Segundo Ana Alaídes, assistente social do Cras local, quem não trabalha na administração do município praticamente não tem opção de emprego na cidade.

“Para quem não tem vínculo com a prefeitura, a única renda fixa são os programas sociais. E antes [do Bolsa Família] não era nada. O pessoal chegava a passar fome mesmo”, diz.

A história da moradora Maria Iraneide Afonso Moreno, de 40 anos, reflete essa situação. Ela cria sozinha seus sete filhos, que têm de 6 a 13 anos, em uma casa de adobe que lhe foi emprestada pela tia.

Ganha R$ 80 ao mês para trabalhar durante meio período em uma casa, lavando roupas e cozinhando. Com o cartão do Bolsa Família, somou R$ 230 fixos à renda mensal. A vida melhorou, diz. “Não está bom ainda, mas à vista do que eu era… Tinha dias que eu comia porque o povo me dava”, conta.

Educação

A taxa de analfabetismo em Assunção é de quase 40% entre pessoas com 15 anos ou mais. Maria Iraneide não sabe ler nem escrever e diz que não lhe restam outras opções de trabalho a não ser “pegar o que vai encontrando mesmo”.

Osiel Pereira de Souza, de 33 anos, também é analfabeto e tenta viver da roça para sustentar sua mulher e os dois filhos. Mas já passou temporadas em Manaus e São Paulo trabalhando em obras de construção civil para conseguir sustentar a família.

“Aqui falta emprego para as pessoas ganharem o pão de cada dia. Então a gente sai para melhorar a situação, porque a coisa é muito fraca”, diz Souza.

Nascido no local há 64 anos, Manoel Alves Barbosa é bem mais velho do que a própria cidade, fundada em 1974. Antes, Assunção era uma localizade do município vizinho, São Miguel do Tapuio. Barbosa viu a cidade crescer, a energia elétrica chegar, em 1997, e agora espera o asfalto.

“A terra é fértil, tem poço para perfurar. Mas faltam infraestrutura, recursos para irrigação e estradas para escoar a produção”, diz ele, que ainda acredita no potencial da capital do feijão.

“A cidade é uma criança, e tudo quando começa é difícil. Acho que esse asfalto deve trazer muito desenvolvimento”, diz ele, torcendo também por mais investimentos do governo federal. “Aqui ainda tem muita coisa para melhorar, não vou dizer que não tem.” (Folha Online)

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