Apenas 48% das escolas brasileiras trabalham com projetos para tratar relações étnico-raciais e combate ao racismo e somente 15,8% das unidades escolares abordam o machismo nas salas de aula. Os dados são do Anuário Brasileiro de Educação Básica 2021, da organização Todos Pela Educação.
Na contramão dessa estatística, duas escolas da rede estadual em Parauapebas, no sudeste paraense, realizam, durante o mês de março, o projeto “Juventude e sociabilidade: cultura do respeito e combate à misoginia, ao machismo e à violência de gênero”. A atividade é iniciativa das professoras Thaize de Souza, de Sociologia, e Aline Alves, de História, das unidades de ensino Luís Magno e Euclydes Figueiredo.
O projeto prevê que, após rodas de conversas e orientação das professoras, os alunos produzam artigos e relatórios sobre os temas e apresentações para as turmas do Ensino Médio.
De acordo com Thaize de Souza, a ideia surgiu pela vivência em sala e pelos índices de violência do município. “Infelizmente, Parauapebas é uma cidade com muitos resquícios de valores deturpados. A ocupação da cidade foi feita em torno do garimpo e da exploração sexual. Temos uma cidade violenta. Apesar de ter apenas 200 mil habitantes, está entre as que têm os números mais assustadores em crimes contra a mulher”, revela a docente.
A iniciativa contempla os projetos integradores do novo Ensino Médio e atende às normatizações propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “A partir do que a BNCC propõe, trabalhamos essa temática, que incentiva o protagonismo dos jovens para que, além da base conceitual, façam uma reflexão do que vivenciam na sociedade e de que forma os movimentos sociais transformam as demandas sociais”, comentou Thaize.
“Muito além de conhecer somente o conceito, pretendemos fazer com quem esses jovens em formação construam uma cultura de respeito à diversidade, com pessoas que estejam em seus círculos de convivência, com uma visão antirracista, de respeito pelas minorias e que entendam a importância dos valores republicanos e democráticos para uma convivência civilizada”, sintetiza a docente.
Para a estudante Vitória Vital, do 2° ano da escola Euclydes Figueiredo, o projeto foi agregador e vai contribuir para sua formação como aluna e cidadã. “Nós estamos desenvolvendo aprendizagem ativa de valores e competências para que encontremos a relevância e o sentido no processo de aprender. Vamos integrar isso nas nossas vivências impostas na sociedade”, disse.
Inclusão – Além do debate contra o racismo e machismo, o projeto promove a inclusão de alunos autistas. “Temos a participação muito ativa de um aluno autista que fez um resumo do histórico do movimento feminista e apresentou para a turma. Identificamos o potencial dele de contextualizar e apresentar dados e estamos trabalhando com isso. Para que ele se sentisse parte do grupo, foram feitas várias conversas com a turma, destacando a importância da inclusão e do acolhimento. Já colhemos resultados, pois ele passou em 4° lugar no concurso de estagiários do Tribunal de Justiça. Ficamos super felizes”, comemora Thaize. (Sâmia Maffra)